A data 8 de março celebra o Dia Internacional da Mulher, além de ressaltar as lutas e conquistas do gênero na sociedade, também aborda muitos desafios que as mulheres enfrentam no meio social. Um dos temas mais debatidos atualmente, é o empreendedorismo materno, exercido por aquelas que enfrentam a jornada de cuidar dos filhos e gerir seu próprio negócio. Ser empreendedora é uma tarefa ampla e multifuncional, pois, na maioria dos casos, para iniciar uma pequena empresa é preciso que, quem a fundou, execute diversas funções simultâneas, como vender, controlar o estoque, divulgar seus serviços, cuidar das finanças, entre outras. Se empreender já é uma missão difícil, ser uma mãe empreendedora é no mínimo, ainda mais desafiador.
De acordo com uma pesquisa feita pela Rede Mulher Empreendedora (RME) 68% das donas de negócio no Brasil resolveram empreender motivadas pela maternidade, após sentirem o desejo de obter renda estando mais perto dos filhos e administrando seu tempo conforme sua realidade. É importante ressaltar que além de estimular a economia e a geração de empregos, o empreendedorismo materno também transforma as relações sociais, pois quando mulheres alcançam a autonomia financeira, não precisam mais se submeter a relacionamentos abusivos e violentos, já que não dependem mais de terceiros para se sustentar.
Para falar sobre o poder do empreendedorismo na transformação profissional, econômica e social na vida das mães, as irmãs macaenses Kelly e Lidiane Bastos, a recifense Mayra Alves e a carioca Isabel Tuñas, compartilharam suas experiências de uma carreira empreendedora bem sucedida. Recentemente inaugurada, a loja virtual Pijame-se nasceu no coração de duas mães (e irmãs) que tinham o desejo de empreender, mas também manter a função de ajudantes do lar e, principalmente, continuar acompanhando o crescimento e desenvolvimento dos seus filhos. Kelly é mãe do Lucas (11) e da Laura (2), e antes de se aventurar como empreendedora, se dedicava inteiramente ao lar e à rotina da família. Já sua irmã Lidiane, mãe da Júlia (10), trabalhou por 6 anos vendendo trufas caseiras.
“Para mim, o empreendedorismo significa muito mais que abrir uma loja online, por muito tempo vivi frustrada, me sentindo uma pessoa sem utilidade, sem sonhos e planos. Parecia que faltava algo para me sentir completa. Nosso intuito não é apenas lucrar, mas usar a Pijame-se para abençoar vidas, colaborando com ONG’s e projetos sociais”, pontuou Kelly. “Num minuto somos mães, no outro profissional, e, no seguinte, mãe profissional! É assim, dessa maneira, que vamos criando nossa forma de fazer as coisas darem certo!”, ressaltaram as irmãs que já têm planos futuros de abrir a loja física, com confecção e marca própria.
A recifense de 31 anos, Mayra Alves, é mãe da Maria Cecília (10) e conta que o empreendedorismo já nasceu com ela. “Sempre resolvi problemas, dei soluções para tudo, desde brincar de bolha de gude com os amigos na comunidade, até organizar sextas de pagode em sala de aula cobrando 0,50 centavos para poder ter o que lanchar a semana toda”, contou.
Mayra afirma que não resolveu empreender, mas sim, aceitou, com seu olhar de oportunidade. “No momento que aceitei, por incômodo criativo, para que minha voz fosse ouvida tudo mudou”, disse. A empreendedora digital começou vendendo brigadeiros, sem saber o ponto da receita, com isso, montou a primeira doceria erótica do país. Mas, ainda assim, o negócio não a preenchia, porque produto físico não era sua máxima, uma vez que é comunicadora e publicitária de formação. “Quando entrei para o marketing digital, meu jogo virou. Com apenas um ano, tudo mudou”, frisou Mayra Alves, seu nome registrado como marca pessoal.
Mayra é mentora de negócios digitais, presta serviços para infoprodutos e cria conteúdos estratégicos e divertidos. Antes disso, trabalhou por 10 anos nas maiores agências de publicidade de Recife, como Morya, Agência Ampla e Agência Um Comunicação. Com renda média de R$ 15 mil mensal, Mayra conseguiu sair da casa de sua mãe e, hoje, mora sozinha com sua filha. “Maria Cecília estuda em uma das melhores escolas da minha cidade. Sou ouvida – isso é muito importante pra mim -, tenho reconhecimento de marcas como Fa.vela, Fundação Roberto Marinho, Porto Social e outros, como mentora de comunicação”, ressaltou.Acrescentando que, o próximo passo é lançar seu próprio infoproduto para escalar seu tempo como mentora.
Já Isabel Tuñas, mãe da Alice (6) e da Marina (3), após vivenciar uma intensa transformação em sua vida, com a chegada da maternidade, ressignificou suas dores e descobriu seu propósito de ajudar outras mulheres através do empreendedorismo materno. Ela tirou seu projeto do papel e lançou a rede de franquias ‘Facilitoy’, uma empresa de aluguel de brinquedos que oferece a melhor experiencia do brincar para os pequenos. Isabel contou que, até o nascimento da sua primeira filha, a Alice, vivia uma vida intensamente voltada para o profissional, trabalhava pelo menos 12 horas por dia, no segmento de hotelaria, e isso lhe trazia muita satisfação pessoal. Mas, quando engravidou, acreditava que conseguiria continuar o mesmo ritmo, por isso com uma semana, após dar à luz, já estava trabalhando em home office e com menos de dois meses do nascimento, retornou para o trabalho em horário comercial. Porém, esse rápido retorno, trouxe uma culpa muito grande. Então, a empresária iniciou um profundo processo de autoconhecimento e ressignificação da vida. “Decidi que era preciso trazer a maternidade para perto, e como forma de cicatrizar minhas feridas, encontrei também uma forma de ajudar outras mães, através da Franquia Facilitoy. Apesar de diversos modelos de negócios divulgarem que são feitos para mulheres, eles exigem delas uma enorme ausência de casa, em ambientes que não são receptivos para crianças. A Facilitoy possibilita justamente que a mãe conquiste sua liberdade financeira sem abrir mão de outras áreas da sua vida”, contou. Com lojas no Rio de Janeiro, Macaé, Rio das Ostras e Campos dos Goytacazes, o objetivo de Isabel é expandir a Facilitoy e conquistar novas franqueadas em todo o Brasil. “A Facilitoy fez surgir em mim uma nova Isabel, muito mais leve e realizada. Com frequência recebo mensagens de amigos comentando o quanto percebem minha felicidade quando, por exemplo, me visto de astronauta e entrego um de nossos brinquedos para uma criança. Pensar que através de um projeto idealizado por mim, milhares de mulheres poderão ter suas vidas transformadas, me enche de alegria. Hoje meu maior desejo é poder transbordar empoderamento na vida de outras mães, e diminuir nelas as dores que eu senti nesse caminho da maternidade”, ressaltou.
Segundo o último levantamento da ABF (Associação Brasileira de Franchising), a presença feminina em cargos de liderança avança gradativamente entre as 50 maiores franquias do país. A participação dos homens nessa categoria diminuiu de 85% para 79%, enquanto a das mulheres aumentou de 15% para 21%. Em 2019, estudos apontam que o faturamento das franquias chega a ser 30% maior quando comandadas por mulheres. Após anos distantes dos cargos de alta direção, as mulheres finalmente estão ocupando seu lugar de direito.
Texto: Jornalista Ana Clara Menezes
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