O Relato de Parto de hoje, é da Liana.
Ela é Professora de Dança, e nos conhecemos através do Zouk. Tive o prazer de acompanhar de perto sua gestação, e sempre conversávamos sobre o quanto queríamos ter um Parto normal humanizado, e o quanto estava sendo difícil achar um Médico no Rio de Janeiro, através do Plano de Saúde, que não fosse Cesarista. O Relato de Parto da Li, é uma esperança de que, ainda é possível sim, ter um Parto Humanizado pelo Plano de Saúde.
Nascimento de Clara
” A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.”
Desde o dia 26/10 meu corpo e Clara estavam mostrando sinais de amadurecimento, logo pela manhã perdi bastante quantidade de tampão, fiquei radiante na esperança de já serem indícios de que o encontro com a minha filha estava próximo!
No domingo fomos à praia, segui perdendo tampão ao longo do dia, e fomos ficando cada vez mais animados. Na segunda acordei com aquela cólica de menstruação bem chatinha… Em paralelo a esses acontecimentos, meu marido me diz que se Clara nascer após dia 01 de novembro, ele iria perder a licença paternidade de 20 dias pois já tinha férias marcadas pro dia 4 de novembro.
Foi então que resolvemos induzir o parto. Liguei pra médica na segunda dia 28, na hora do almoço e ela pediu que eu internasse às 15h… Eu não estava nem um pouco preparada psicologicamente pra dar a luz a uma criança naquele dia, mas quem está? Na verdade, nunca estamos…
Cheguei na Perinatal de Laranjeiras por volta das 15h30m, e a cólica chata ia e vinha… À noite a médica chegou, e iniciou a indução com misoprostol às 20h. Combinamos dela voltar às 2h da manhã para o segundo comprimido. Mas… Clara resolveu vir logo e acabar com nossa ansiedade. Estávamos eu e meu marido deitados naquela cama apertada de hospital vendo TV quando eu brinquei — Vamos chamar a Clarinha, amor, para ela vir logo! – E ficamos alisando minha barriga dizendo – Vem Clarinha! –
“E então senti a bolsa romper num estalo, uma sensação estranha e aquele aguaceiro molhou a cama toda! Estava acontecendo! E eu não podia estar mais feliz!”
Chamamos a enfermeira que começou a monitorar, fizemos o cardiotoco, tudo normal. Logo começaram as contrações, no início bem tranquilas, dolorosas, mas dava pra aguentar! Logo chegou a médica e fez o primeiro toque, 2-3 de dilatação! Que alegria! Após esse primeiro toque as contrações vieram mais fortes e vinham cada vez mais fortes! Os intervalos começaram a diminuir também, o que estava me deixando sem ar, e eu não conseguia mais descansar entre uma contração e outra, evoluiu rápido demais para uma primípara, estava começando a ficar assustada com a falta de controle com meu próprio corpo, minhas pernas não respondiam, tudo doía demais! Meu marido tinha que me levantar, apoiar, ajudar a andar etc! Fui pro chuveiro, voltei pra cama… não achava posição… veio o segundo toque, 7-8 cm, a dor estava muuuuuuito intensa! Pedi anestesia, e tomei uma pequena dose de peridural.
Fomos para a sala de parto, sob efeito da anestesia, ainda sentia as contrações, porém dava pra suportar melhor… segui tentando achar uma posição confortável, fui pra banheira, fiquei na banqueta, fui pra cama, rebolei na bola Suíça, ficava em pé! Enfim, é maravilhoso poder fazer o que quiser no seu parto! Liberdade de movimentação é fundamental!
E essa troca de posições foi ajudando na descida da neném que fez maravilhosamente seu papel sem diminuir a frequência cardíaca nenhum minuto sequer!
Enfim, lá pelas tantas da manhã, a anestesia já tinha passado efeito. Parto estava estagnado, e a médica perguntou se podia colocar ocitocina no meu acesso para voltar a engrenar e eu consenti! E lá vieram as dolorosas e potentes contrações da transição… mais algumas horas depois e pela altura que estava o sonar, já imaginávamos que Clara já podia ser tocada lá dentro, e lá estava ela, quando eu me toquei e senti que ela já estava chegando, Deus me deu ainda mais força. Foi aí que as contrações deram lugar aos puxos! Uma onda que te domina e você simplesmente empurra! Na fisioterapia pélvica eu aprendi a associar a minha respiração com os puxos, e me concentrei para empurrar do jeito certo! Ela coroou! O círculo de fogo é realmente DE FOGO! Como arde! A médica tira uma foto e me mostra pra eu me animar!
Começa o expulsivo… Cogitei a possibilidade de anestesia de novo, mas a médica me convenceu de que já estava muito perto e que tinha certeza que eu aguentava mais. Nessa hora vai batendo o desespero pq vc quer que acabe logo e eu comecei a querer fazer força fora dos puxos, e minha médica me puxava a orelha – você está fazendo força fora do puxo Liana? Não faz isso, espera o puxo! – me concentrei novamente para esperar o puxo apesar da dor insuportável que estava sentindo a essa altura.
Meu marido foi meu apoio mais fundamental nessa hora crítica, apoiava nele nos puxos e quando relaxava me jogava com meu peso todo em cima dele! Eu gritava! Ele gritava! A equipe gritava – Vai! Falta muito pouco! Fechei os olhos e ouvi muita movimentação ao meu redor, como se cada um estivesse fazendo algo e se colocando perto de nós! Pensei…. ta muuuuuito perto! A dor estava lancinante, pensei q ia desmaiar várias vezes… me senti como em um transe, fora de mim…
E às 6: 54, de repente, ela saiu, e senti o alívio mais maravilhoso do mundo! Ela veio pros meus braços e com os olhos abertos me olhou, olhou pro pai, olhou pra médica que falou – Bom dia princesa! – e aí ela chorou! Desfrutamos a Golden Hour pelo tempo que eu quis, senti aquela pele macia dela pela primeira vez, abracei, cheirei, tentamos dar o peito, mas ela não conseguiu pegar na hora, só mais tarde no quarto já… Dei ela pro pai, que não se aguentava de tão feliz, ele cortou o cordão. Foi lindo! Foi um parto a três, onde eu, meu marido e Clara formamos um time e cada um fez seu papel e tudo deu certo! Um parto emocionante, cheio de ocitocina, amor e respeito! Com uma equipe maravilhosa que respeitou as minhas escolhas até o fim!
Sim! Existe parto humanizado com plano de saúde!
Obrigada a cada um que fez parte desse nosso momento! Dra Marina Lacerda que orquestrou maravilhosamente cada momento do parto, a pediatra, as enfermeiras e principalmente Deus, quem permitiu que tudo acontecesse do jeito que aconteceu!